BCAA Faz Mal? Efeitos Colaterais e Cuidados
Categorias: Massa Muscular / Suplementos
Um dos cinco suplementos esportivos mais utilizados em todo o mundo, o BCAA é quase que uma unanimidade entre os frequentadores de academia, graças aos seus inúmeros benefícios para o ganho de massa muscular.
Fonte de aminoácidos que reduzem a fadiga durante os exercícios e aceleram a recuperação no pós treino, o BCAA tem sido utilizado sem maiores preocupações por quem procura definição muscular e desempenho esportivo.
Outro motivo pelo qual o BCAA é considerado um ótimo suplemento é a segurança do produto, já que pouco se fala sobre os efeitos colaterais do BCAA. Mas será que eles realmente não existem? Será que o BCAA faz mal ou é totalmente seguro?
O que é BCAA
Abreviação de branched-chain amino acids, ou aminoácidos de cadeia ramificada, o BCAA é na verdade a combinação de três diferentes aminoácidos essenciais: valina, leucina e isoleucina.
Por não serem sintetizados pelo organismo, os três precisam ser obtidos através da dieta ou pela suplementação – daí o nome de “essenciais”.
Para que serve BCAA
Em conjunto, os três aminoácidos que compõem o BCAA atuam para melhorar o desempenho durante os treinos, diminuir a degradação das proteínas (catabolismo), estimular a síntese de proteínas e reduzir a fadiga.
Também é possível consumir o BCAA para melhorar o foco e diminuir a confusão mental. Estudos indicam ainda que o BCAA pode ser utilizado para tratar algumas condições específicas, como anorexia e cirrose.
BCAA é natural
Antes de analisarmos se o BCAA faz mal e também seus possíveis efeitos colaterais, é fundamental ressaltar que o nutriente já é encontrado naturalmente em nossa dieta. Através do consumo de carne vermelha, peixes e ovos, nós já estamos obtendo regularmente uma boa concentração dos aminoácidos de cadeia ramificada.
Isso significa que o BCAA é um composto natural, e não um suplemento totalmente sintetizado em laboratório para aumentar a performance. O que isso quer dizer? Que é impossível afirmar que o BCAA faz mal?
Na prática, quer dizer que o corpo não só está adaptado a esses aminoácidos como necessita deles diariamente para realizar suas funções e promover o crescimento muscular. Esse fato aumenta significativamente a segurança do BCAA, já que os aminoácidos são naturalmente reconhecidos e assimilados pelo corpo.
BCAA faz Mal?
A literatura cientifica é bastante escassa quanto aos possíveis efeitos colaterais do BCAA. Os inúmeros estudos realizados com o suplemento parecem confirmar que o suplemento é de fato bastante seguro e não traz riscos para os praticantes de atividade física.
Pouco comuns, alguns dos possíveis efeitos colaterais do BCAA incluem:
- Alterações na glicose sanguínea – o suplemento pode causar queda nos níveis de açúcar no sangue;
- Perda da coordenação motora;
- Possível sobrecarga dos rins em pessoas que já apresentam comprometimento das funções renais.
- Náuseas;
- Dores de cabeça;
- Agravamento da Esclerose Lateral Amiotrófica – Há evidências de que o uso de aminoácidos de cadeia ramificada por pacientes portadores da condição (também conhecida como doença de Lou Gehrig) pode causar falência pulmonar e elevar o risco de morte.
Outros Ingredientes
A análise do rótulo de algumas das principais marcas de BCAA revela a presença de ingredientes como a lactose e a maltodextrina na fórmula do suplemento.
Embora sejam ambos seguros, a lactose pode causar complicações em pessoas com sensibilidade ao açúcar do leite. Portanto, caso você tenha intolerância à lactose, esse tipo BCAA faz mal a você. Analise atentamente os rótulos e considere a opção de tomar o BCAA em pó, que não costuma apresentar a lactose entre seus ingredientes.
Interações
O BCAA pode interferir com algumas medicações. São elas:
- Corticosteroides: a eficácia do BCAA pode ser reduzida na presença desses medicamentos;
- Medicamentos para controle do diabetes: a combinação desses remédios com o BCAA pode diminuir de maneira perigosa as taxas de açúcar do sangue;
- Hormônio da tireoide: alguns medicamentos para tireoide podem diminuir a velocidade de absorção dos aminoácidos de cadeia ramificada;
- Remédios para tratar o Parkinson: o BCAA pode diminuir a coordenação motora, exatamente um dos piores sintomas da doença de Parkinson.
Os Maiores Mitos
Apesar da baixa incidência de efeitos colaterais associados ao BCAA, alguns mitos ainda cercam o suplemento, como a crença de que o BCAA pode provocar queda de cabelo ou então prejudicar as funções hepáticas.
Vamos fazer então uma rápida análise desses possíveis riscos do BCAA e a verdade científica por trás de cada um deles:
– BCAA prejudica os rins e o fígado?
A relação entre o alto consumo de proteínas (que são degradadas em aminoácidos) e problemas renais se daria pelo fato dos rins serem os responsáveis pela eliminação dos subprodutos do metabolismo proteico – a amônia e a ureia.
Em pessoas saudáveis (ou seja, sem histórico de complicações renais), no entanto, não há qualquer comprovação científica de que o alto consumo de proteínas prejudique os rins.
E de maneira semelhante, não há estudos relacionando a suplementação de BCAA com problemas hepáticos. Neste caso, na verdade, a situação parece ser inversa, pois um estudo publicado em 2013 na revista especializada Nutrition afirma que os aminoácidos de cadeia ramificada podem ser benéficos a pacientes portadores de cirrose.
– BCAA causa queda de cabelo?
Sendo os homens os principais usuários do suplemento, nada mais natural do que a afirmação de que BCAA faz cair cabelo causar uma certa apreensão dentro das academias. Felizmente essa parece ser mais uma crença infundada sobre o BCAA.
A queda de cabelo – seja em homens ou mulheres – está na realidade ligada a dois outros fatores. Um deles é a deficiência de ferro, mineral essencial para o transporte de oxigênio e outros nutrientes até os folículos pilosos.
Outro seria uma deficiência nos canais de potássio do folículo piloso, problema que pode ser causado tanto pelo baixo consumo do mineral como pela ingestão excessiva de sódio, que tende a se acumular ao redor da estrutura capilar.
Uma pesquisa publicada em 2002 na Clinical and Experimental Dermatology sugere que a suplementação com ferro e lisina possa levar a uma diminuição da queda de cabelo. E como a lisina é exatamente um dos aminoácidos que compõem o BCAA, podemos supor que o suplemento pode ter efeito positivo na luta contra a calvície.
Estudos preliminares sugerem ainda que o BCAA pode estimular a síntese de novos canais de potássio, efeito que também pode ser fundamental para a prevenção da queda de cabelo.
E, por último, vamos lembrar que os fios de cabelo são produzidos a partir de proteínas – muitas das quais formadas por aminoácidos de cadeia ramificada -, o que também contribui para concluirmos que o BCAA é na verdade um aliado contra a queda de cabelo, e não o contrário como se tem propagado.
– BCAA faz mal ao estômago?
Novamente aqui não há qualquer comprovação de que o BCAA possa causar problemas estomacais. Podemos imaginar, portanto, que os relatos de complicações gastrointestinais causadas pelo suplemento na verdade possuem outra explicação.
Como já mencionamos anteriormente, algumas marcas de BCAA acrescentam lactose ao suplemento, para facilitar a compactação do produto em cápsulas.
Quando levamos em consideração que cerca de 70% da população sofre com intolerância à lactose, não é difícil imaginar que parte dos problemas do BCAA na digestão podem estar relacionados ao açúcar do leite.
Outra explicação bastante provável seria o consumo do suplemento com carboidratos, nutrientes que podem sofrer fermentação e causar gases, cólicas e distensão abdominal.
– BCAA causa acne?
Aqui existem duas explicações plausíveis, sendo ambas igualmente prováveis.
Quem está procurando hipertrofia muscular tende a aumentar significativamente a quantidade de proteínas na dieta, certo? E quais são as principais fontes de proteína na nossa alimentação?
Exatamente as carne vermelha e laticínios. Em comum, além de serem de origem animal, essas duas fontes proteicas também apresentam um alto teor de gordura saturada. E já se sabe que uma grande quantidade de ácidos graxos na alimentação pode causar acne.
Por outro lado, também se conhece que a leucina ativa o metabolismo dos lipídios, o que explicaria um possível efeito do BCAA no surgimento de acnes.
Caso você note um surgimento anormal de acne e cravos, substitua os laticínios integrais pelos light e reduza o consumo de gordura na dieta.
– BCAA causa depressão?
Esse efeito colateral do BCAA é de fato verdadeiro, embora as pesquisas não sejam totalmente claras sobre o assunto.
O que ocorre é que os aminoácidos de cadeia ramificada competem com o triptofano para serem absorvidos pelo cérebro. E o triptofano é um dos precursores da serotonina, um neurotransmissor associado ao prazer e bem estar. Uma diminuição dos níveis de serotonina pode causar depressão, mau humor e até mesmo aumentar o apetite.
Portanto, de maneira indireta, o BCAA dificulta a produção de serotonina, o que por sua vez pode causar uma alteração no bem estar e no humor.
Uma maneira de evitar que isso ocorra é através do aumento no consumo de alimentos ricos em triptofano. Outra possibilidade é consumir o BCAA com uma fonte de carboidrato, nutriente que também facilita a captação de triptofano pelo cérebro.
Cuidados
São poucos os cuidados que você deve tomar com o BCAA:
- Quem é intolerante à lactose deve ficar atento à presença do açúcar do leite nos rótulos de BCAA;
- Prestar atenção às já citadas interações medicamentosas;
- Evitar o uso do suplemento caso apresente quadro de depressão ou instabilidade de humor;
- Quem já consome muita proteína na dieta e tem problemas renais deve redobrar os cuidados com o BCAA;
- Por último, para quem já faz uso de outros suplementos alimentares, a dica é conversar com um nutricionista para evitar possíveis interações e maximizar os efeitos positivos do BCAA.
Para concluir
Até o presente momento, a análise de inúmeros estudos sobre o suplemento não nos permite afirmar que o BCAA faz mal. O suplemento pode ser consumido sem colocar a saúde em risco.
Portanto, a menos que esteja tomando algum medicamento que possa interagir com os aminoácidos ou então seja portador de alguma das condições citadas anteriormente (como o diabetes), você pode tomar o BCAA sem maiores problemas.
Referências adicionais:
- Scarna A, Gijsman HJ, Harmer CJ, et al. Effect of branch chain amino acids supplemented with tryptophan on tyrosine availability and plasma prolactin. Psychopharmacology2002;159:222-3;
- John D. Fernstrom. Branched-Chain Amino Acids and Brain Function. The Journal of Nutrition June 1, 2005. 135 no. 6 1539S-1546S;
- Holecek M. Branched-chain amino acids and ammonia metabolism in liver disease: therapeutic implications. Nutrition. 2013 Oct;29(10):1186-91. doi: 10.1016/j.nut.2013.01.022. Epub 2013 Jun 4.;
- http://www.webmd.com/vitamins-and-supplements/branched-chain-amino-acids-uses-risks;
- http://examine.com/supplements/branched-chain-amino-acids/;
- http://www.uofmhealth.org/health-library/hn-2815001